Texto do professor de Literatura da UFCG/
Cajazeiras Carlos
Gildemar Pontes, escritor
e editor das Edições Acauã e da Revista Acauã.
REFLEXÕES SOBRE O LIVRO E SEU POVO
gilpoeta@yahoo.it
Acompanho as discussões do Fórum do Povo do Livro
da Paraíba desde que nele me integrei. Às vezes, tenho a impressão que parece
haver uma burocratização das ações do fórum, desacostumados que somos de andar
sem as mãos do estado ou dos municípios. Temos objetivos comuns, mas motivações
muito diferentes.
Os autores querem ser conhecidos e de quebra vender
seus livros;
Os livreiros querem manter as livrarias, de
preferência, vendendo os livros (material mais ordinário de se trabalhar);
Os editores querem editar mais autores, que querem
ser mais conhecidos, para que os livreiros vendam suas obras e, por fim, os
editores ganhem mais dinheiro;
O Estado e os município, estes, às vezes, têm boas
intenções, procuram realizar eventos e organizar políticas, que esbarram na
mais completa distensão com a realidade prática.
O povo não tem dinheiro para comprar livro; quando
tem não compra porque não lê; quando lê não é levado a optar pela leitura
porque simplesmente NÃO EXISTE interesse do poder que controla a indústria da
imbecilização de oferecer alternativas ao povo que quer esse mundo menos
imbecil. Conclusão simples: os gatos pingados da capital querem algo que está
além de suas posses mais subjetivas. O problema está no sistema que se alimenta
da estupidez do povo.
Como combater isto com fórunzinhos, eventozinhos,
politicazinhas (ironia) e outras coisinhas insignificantes diante do poder
estrondoso do capital da indústria cultural da estupidez?
É fácil promover evento e convidar os profissionais
do livro, que na sua maioria têm que se desdobrar em outras profissões ou
trabalhos extras para poder ter no livro algum tipo de prazer ou lucro ou os
dois. Ninguém aqui é monge.
Alguém desse fórum já imaginou como devem ser estes
problemas no interior do estado? Quem conhece a realidade de Patos, Pombal,
Sousa e Cajazeiras, cidades que estão na linha da BR que liga o litoral ao
extremo oeste do estado?
Quantas vezes eu ou os outros agentes dessas
localidades (que não sejam ligados aos municípios, porque estes são paus
mandados) foram consultados, digo consultados e convidados, para decidir em
nome da categoria de “povo do livro do interior” as ações voltadas para todos?
Somos quantos, afinal? Nós, aqui no sertão, temos problemas mais insolúveis,
porque aqui temos os políticos mais atrasados do país, que por acaso são estas
cavalgaduras que alimentam a indústria da estupidez. Na maioria são tão burros
para a cultura geral e sapientíssimos para as falcatruas políticas. A lei nas
cidades sertanejas é a do toma-lá-dá-cá. Se for adversário vai para o
ostracismo, se for aliado ajuda a manter esta “excrescência quo” da nulidade
cidadã.
Falar em LIVRO, LEITURA, LITERATURA, ARTE, de uma
maneira geral, é falar de logarítimo e palíndromo para uma geração viciada em
favores e facilidades que geram legiões de imbecis de toda ordem. Estes se
alimentam do lixo cultural que os políticos dão em doses generosas nas
festividades municipais, onde deveríamos estar refinando culturalmente o espírito,
cultuando as raízes identitárias do povo e educando-lhes para que, no presente
e no futuro próximos, possamos salvar esse mundo das misérias.
Caso essa realidade não mude vamos ter medo ou
vergonha de falar em arte e leitura. Vamos nos obrigar a ficar em guetos com um
punhado de desencantados. Isso se o tédio não matar um bocado de nós. Estamos
nas vésperas do caos, e aí, dá para ficar esperando ele chegar? Ou dá para
tomarmos atitudes radicais de combate à miséria da estupidez, que gera quase
todas as outras misérias?
Carlos
Gildemar Pontes
Escritor
e editor das Edições Acauã e da Revista Acauã. Professor de Literatura da UFCG/
Cajazeiras.
http://drisph.blogspot.com/2011/09/minha-paixao-por-livros.html
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